19-10-2012 Menezes Rodrigues (ASFAC) confia na saúde do sistema financeiro "Instituições financeiras estão preparadas para os próximos anos"
"O sistema financeiro português é bastante forte, como temos vindo a verificar pelos resultados dos testes a que têm sido submetidos pela troika", afirma, em entrevista à "Vida Económica" o presidente da ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado. "Acredito, por isso, que não só o regulador está atento como também as próprias instituições financeiras estão preparadas para os próximos anos", confia António Menezes Rodrigues.
Vida Económica - O crédito concedido pelas associadas da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) caiu 17,1% entre abril e junho. Quais os principais fatores?
António Menezes Rodrigues - Há dois fatores que contribuem para esta queda na concessão de crédito. Por um lado, o consumo diminuiu, o que leva, obrigatoriamente, à quebra dos pedidos de financiamento para este fim. Por outro lado, as instituições financeiras estão a recusar mais pedidos de crédito porque a capacidade financeira dos potenciais clientes não é suficiente para fazer face à despesa que pretendem assumir.
VE - A quebra no mercado automóvel nacional também prejudica a produção de crédito?
AMR - Naturalmente, porque grande parte dos veículos são vendidos a crédito.
VE - O malparado é um problema para as associadas da ASFAC?
AMR - O malparado é um problema para qualquer instituição financeira. Se a atividade da empresa se centra única e exclusivamente na concessão de crédito, a questão do malparado ganha uma dimensão superior. Assim, o que as nossas associadas têm feito, além da constante afinação dos critérios de scoring - avaliação do risco de crédito -, é o aumento das provisões para este fim.
VE - Uma das razões apontadas para o sobreendividamento dos portugueses foi a iliteracia financeira, o que levou a ASFAC a apostar na educação financeira. Que balanço fazem da aposta?
AMR - O balanço não podia ser mais positivo. A ASFAC foi pioneira no desenvolvimento de ações de educação financeira em Portugal. Desde 2005, ano em que começou a desenvolver as primeiras atividades, a ASFAC tem visto o número de parcerias estabelecidas com entidades públicas e privadas aumentar exponencialmente, o que levou, naturalmente, a um forte aumento do número de horas de formação. A integração da ASFAC na rede de membros afiliados da OCDE para a área da educação financeira, assim como a escolha da ASFAC para representar a AFLATOUN - uma ONG internacional que atua na área da educação financeira -, denotam o reconhecimento internacional do trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos e isso é prova de que estamos no caminho certo.
VE - As empresas queixam-se da falta de financiamento à economia por parte da banca tradicional. As associadas da ASFAC podem garantir esse financiamento?
AMR - Algumas das associadas da ASFAC concedem crédito para a reposição de stocks, ou seja, para a compra de produtos para revenda. Também é concedido crédito para a compra de equipamentos, ou seja, aquisição de materiais que sejam necessários para o desempenho da atividade. Se as empresas portuguesas que tiverem capacidade para recorrer ao crédito pretenderem este tipo de financiamento e consultarem as nossas associadas, não vejo porque não se conceda o crédito. Só é necessário que ambas as partes estejam de acordo com todas as variáveis em jogo.
VE - Portugal e a Europa passam por dificuldades económicas sem precedentes. Acredita que o sistema financeiro português tem saúde suficiente para "choques" mais fortes?
AMR - O sistema financeiro português é bastante forte, como temos vindo a verificar pelos resultados dos testes a que têm sido submetidos pela "troika". Acredito, por isso, que não só o regulador está atento, como também as próprias instituições financeiras estão preparadas para os próximos anos.
VE - Em relação ao nosso país, acredita que o país vai escapar a um novo pedido de resgate financeiro?
AMR - Acredito que sim.
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Aquiles Pinto-aquilespinto@vidaeconomica.pt |
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