29-10-2012
Miguel Cadilhe nas Jornadas Empresariais AEP/SERRALVES
"Dívida pública deverá ser renegociada"
Os efeitos da proposta de Orçamento de Estado para 2013 apresentada pelo Governo e a necessidade de políticas económicas que reforcem a competitividade das empresas nacionais, nomeadamente para facilitar a sua entrada sustentada nos mercados estrangeiros, foram os pontos dominantes da sessão desta manhã das III Jornadas Empresariais AEP/Serralves que há dias debateram os caminhos para a internacionalização da economia portuguesa.
Promovidas pelas fundações AEP e de Serralves, nas instalações desta última, as jornadas tiveram o ex-ministro das Finanças Miguel Cadilhe como principal orador da sessão inaugural, que reuniu empresários, gestores e ex-governantes com experiência na matéria. As condições estavam criadas para que, mais do que discutir a presente situação económica, fosse deixada uma visão prospetiva sobre o caminho a seguir pelas PME e conselhos concretos quanto às estratégias a adotar para conquistar determinados mercados com maior potencial.
Prioridade às exportações
O tema da internacionalização é, de resto, de grande "pertinência" e "fundamental no momento particularmente difícil que a economia portuguesa atravessa", como justificou na abertura o presidente da Fundação AEP, Paulo Nunes de Almeida, aconselhando medidas que induzam o aumento das exportações mas também o alargamento dos mercados de destino.
Além disso, "o processo de internacionalização deve também ser visto ao nível dos fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE)", que Paulo Nunes de Almeida considera dever ser incrementado e orientado com prioridade para os setores dos bens transacionáveis enquanto alavanca de aumento das exportações. Defendeu, por isso, a definição de "estratégias concertadas entre atores públicos e privados, sem as quais as empresas portuguesas não terão a seu lado um ambiente favorável ao desenvolvimento dos negócios".
Estava assim lançado o mote para as jornadas, inseridas num projeto mais vasto da Fundação AEP - o "Apreender" - que tem o apoio do Compete e recupera o espírito das discussões estratégicas dinamizadas em tempos pela AEP e que ficaram celebrizadas como "Encontros de Vidago".
De resto, também o presidente da Fundação de Serralves, Luís Braga da Cruz, apontou "a pergunta óbvia: o que pode cada um fazer para melhorar a situação em que nos encontramos?", apelando à ação imediata e dizendo que "é preciso propiciar a criação de riqueza. Essa é a prioridade para os escassos recursos económicos disponíveis".
Reduzir a dívida externa
Com o principal discurso da manhã a cargo de Miguel Cadilhe, o Auditório de Serralves escutou em seguida uma escalpelização do OE 2013 - "uma das piores provas de fogo por que vamos passar" -, na perspetiva de que, sendo "a internacionalização de extrema importância para Portugal, ela tem a ver com o crescimento económico e com a redução da dívida externa".
Mas Miguel Cadilhe falou em "usura" para se referir aos juros a pagar por Portugal à 'troika' e advertiu que a dívida deve ser renegociada. Até porque "quem tudo quer tudo perde", como sublinhou ao descrever que "o programa da 'troika' parece estar a tender para ser pouco suportável e pode entrar em não efetividade...". O antigo governante explicou que a taxa deve ser baixada e o prazo alongado, falando mesmo no conceito de "uma quase perpetuidade" da dívida. Porém, Miguel Cadilhe considera que "essa renegociação deve ser bem conduzida" e declarou que o atual ministro, Vítor Gaspar, "é a pessoa certa para o fazer".
Portugal pode deixar de ser periférico
José António Barros, presidente da Associação Empresarial de Portugal, afirmou que "internacionalização não é só exportação e investimento no exterior". O nosso país, concretizou, deve criar condições para tirar partido da sua "localização privilegiada no trânsito internacional de mercadorias para Oriente". Temos de "deixar de ser periféricos e passar a ser centrais", aproveitando o previsível aumento do movimento marítimo gerado com o alargamento do canal do Panamá, apontou.
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