23-11-2012 Empresa brasileira vai manter todos os postos de trabalho Rio Nave quer investir 30 milhões nos Estaleiros de Viana
Portugal é um país atrativo para o investimento - disse Mauro Campos. Em entrevista à "Vida Económica" o presidente da Estai (Grupo Rio Nave) confirma a intenção de comprar os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. No concurso de privatização que está a decorrer, a Rio Nave pretende vencer os investidores russos da JSC River Sea Industrial Trading.
Se for a vencedora do concurso de privatização, a Rio Nave prevê investir 30 milhões de euros na compra dos Estaleiros de Viana e na sua modernização. Os planos do grupo brasileiro contemplam manter a totalidade dos postos de trabalho, num total de cerca de 600 pessoas.
O interesse do grupo brasileiro pela compra dos Estaleiros de Viana do Castelo está relacionado com os investimentos na extração de petróleo. "Face ao atual volume de encomendas de navios por parte da Petrobras, a capacidade de produção dos estaleiros navais no Brasil está esgotada" - afirma Mauro Campos. Como exemplo, aponta um tipo de navio muito utilizado no apoio à atividade das plataformas petrolíferas, que tem um custo unitário de 80 milhões de dólares. A Petrobras pretende encomendar 300 navios deste tipo.
Mauro Campos admite que seis a oito unidades deste tipo de barco venham a ser fabricadas em Viana do Castelo, podendo gerar um volume de encomendas com um valor superior a 500 milhões de dólares e ocupando em pleno a atual capacidade de produção. Além dos postos de trabalho diretos, o relançamento da atividade dos Estaleiros de Viana irá gerar um elevado número de postos de trabalho indiretos, dinamizando a procura de trabalho qualificado.
Custos laborais são semelhantes em Portugal e Brasil
"Os custos de mão de obra no nosso setor de atividade são semelhantes em Portugal e Brasil" - disse Mauro Campos à "Vida Económica". "Inicialmente admitimos que os custos salariais seriam superiores em Portugal, mas verificamos que se encontram praticamente ao mesmo nível" - acrescentou.
Sobre a principal vantagem que Portugal oferece para uma empresa estrangeira, Mauro Campos aponta a qualificação dos trabalhadores portugueses.
Na visita efetuada aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Mauro Campos analisou em detalhe as instalações e os equipamentos. "Só não vi os trabalhadores - afirma". Como a produção se encontra praticamente parada em Viana, os trabalhadores "picam" o ponto no início de cada manhã e vão-se embora.
O objetivo da Rio Nave é utilizar em pleno a capacidade produtiva, o que vai exigir investimento na modernização dos estaleiros de Viana.
Regras do concurso são equilibradas
Para Mauro Campos, as regras estabelecidas para a privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo têm sido equilibradas. Em termos de consulta da informação o processo tem respeitado a igualdade entre os concorrentes.
Nesta fase fácil do concurso já só estão dois concorrentes. O grupo português Atlantic Shipbuilding não chegou apresentar a proposta por ter ocorrido uma falha técnica. Os noruegueses da Volstad Maritime foram excluídos por terem entregue a proposta para lá do fim do prazo estabelecido. Ainda assim, os noruegueses afirmam que cumpriram o prazo e que houve erro informático, conforme pretendem demonstrar.
As regras do concurso de privatização estabelecem que a concessão da exploração da empresa vai durar pelo menos até 2031. A empresa vencedora não poderá vender os Estaleiros de Viana durante os próximos cinco anos.
Investimento em outros países não está contemplado
Para a instalação da sua primeira unidade de produção fora do Brasil, a Rio Nave apenas está a equacionar o investimento em Portugal.
Mauro Campos afirmou não ter em vista outras hipóteses alternativas, nomeadamente, em Vigo, onde a indústria de construção naval tem expressão e enfrenta as contrariedades da atual conjuntura.
"A construção naval é uma atividade considerada difícil, em particular na Europa" - admite Mauro Campos. Sofre a concorrência dos países asiáticos com mão de obra barata e está sujeita a incerteza no comércio mundial.
"Quando as trocas comerciais aumentam, a procura de navios é maior, o que tem efeitos diretos na construção naval. Mas se o comércio mundial estagna ou diminui, a procura de navios diminui de imediato" - afirma.
Uma das vantagens que Portugal apresenta é a cooperação possível com a Lisnave no domínio da reparação naval - salienta Mauro Campos. Dispondo de um estaleiro de grandes dimensões à escala internacional, tem boas condições para complementar a oferta de Viana do Castelo como "cluster" da indústria naval e satisfazer parte da procura sem precedentes devido aos investimentos na exploração do petróleo que estão em curso no Brasil.
Normas aduaneiras facilitam cooperação industrial
Apesar de o Brasil ter normas aduaneiras que dificultam as importações e encarecem os produtos comprados no estrangeiro, Mauro Campos afirma que não existem obstáculos à cooperação na produção industrial pelo menos no caso concreto da indústria naval. Pelo contrário, a estratégia da Rio Nave passa pela produção de partes dos mesmos navios no Brasil e em Portugal, o que é permitido pelas normas brasileiras. A produção repartida por mais que um estaleiro é vista pelo presidente da Rio Nave com um fator de flexibilidade e de eficácia.
Da mesma forma que a Airbus produz os aviões integrando as produções de um conjunto de fábricas integradas num consórcio e situadas em vários países europeus, Mauro Campos pretende fazer algo semelhante, mesmo tratando-se de navios de grandes dimensões. Se o avanço da aviação comercial tem tornado o mundo mais pequeno, a indústria naval também pode aproximar Portugal ao Brasil.
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João Luis de Sousa - jlsousa@vidaeconomica.pt |
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