11-12-2012 "Vida Económica" calculou dados per capita Portugal com a terceira maior taxa de bancos por habitante da União Europeia
Portugal tem a terceira maior taxa de agências bancárias per capita da União Europeia. Segundo cálculos da "Vida Económica", feitos com base em dados do Banco Central Europeu, o nosso país tem 606,25 balcões por milhão de habitante, um valor apenas mais baixo do que Chipre e Espanha. No cenário económico e de utilização de serviços bancários atual, a banca portuguesa está já a diminuir o número de agências.
Portugal está entre os países com maior número de agências bancárias por habitante da União Europeia (UE). Com base nos dados do total de balcões por Estado-membro, enviados pelo Banco Central Europeu (BCE), a "Vida Económica" calculou o número per capita, concluindo que o nosso país tem a terceira maior taxa de agências bancárias da UE, sendo apenas suplantado por Chipre e Espanha. Com um total de balcões de 6403, Portugal tem 606,25 agências por milhão de habitante, contra 870,6 do país vizinho (40 103 agências) e umas impressionantes 1144,01 na ilha do Mediterrâneo (902 agências).
Destaque para o curioso facto dos países que ocupam as três posições cimeiras deste "ranking" terem as respetivas economias num estado frágil. O número de sucursais bancárias em Chipre é 695,5%, superior ao da Estónia, o país da UE com números mais baixos (143,77 balcões por milhão de habitantes).
Já Portugal tem um rácio de agência bancária por milhão de pessoas 321,7% ao da Estónia. Mesmo em relação à Holanda (160,1 balcões por milhão de habitante) e ao Reino Unido (191,65), penúltimo e antepenúltimo nesta lista, o nosso país tem, respetivamente, mais 278,7% e 216,3% bancos per capita. Até na comparação com países com demografia semelhante à portuguesa, há diferenças marcantes. Desses, o país que mais se aproxima do rácio português é a Áustria (579,9) e o que tem o valor mais baixo é a República Checa (197). Mesmo a Grécia, que tantas vezes serve de comparação a Portugal, tem menos bancos por milhão de habitante do que o nosso país: 341,46 agências.
Entre as cinco maiores economias da UE, além da já referida Espanha, a França é que tem o maior rácio de agência bancária por milhão de habitantes (585,55). Seguem-se a Itália (556,53), a Alemanha (462,99) e o também já indicado Reino Unido.
Ajuste já a ser feito em vários países
O país de David Cameron tem, com efeito, um dos rácios mais baixos. De acordo com um documento do parlamento britânico que consultámos, aquele país tem hoje menos cerca de 40% de agências bancárias do que no início da década de 1990.
Será, pois, esse um exercício que outros países deverão seguir nos próximos anos, não só pela conjuntura económica global, mas também pela nova realidade de utilização dos serviços bancários. Com efeito, conceitos como "e-banking" e "mobile banking" já se juntaram utilização intensiva de outros meios automáticos já generalizados, como as ATM.
Em Espanha, por exemplo, uma análise do Instituto de Estudios Bursátiles, apresentada em abril, avisa que deveriam encerrar cerca de 10 agências bancárias por dia nos próximos três anos. O estudo prevê que a quantidade de sucursais baixe 35% face às 41 mil que existiam no fim de 2011 ou 40% face às 46 mil que existiam em 2007, quando, segundo aquela entidade, o país vizinho teve o pico de 46 mil balcões bancários.
Também Portugal está a percorrer esse caminho. Segundo os dados do BCE, as já referidas 6403 agências indicadas para o fim de 2011 representam um decréscimo face às 6459 agências de 2010. Já este ano, a tendência mantém-se. A "Vida Económica" consultou os resultados dos cinco bancos com maior volume de negócios e constatou que todos reduziram o número de agências ao longo dos últimos meses.
APB não comenta, Montepio e Popular sim
Tendo em conta que esta realidade significa, sobretudo na conjuntura atual, que os bancos a operar em Portugal deverão manter a estratégia de diminuição de instalações e, também, de recursos humanos, a "Vida Económica" solicitou um comentário à Associação Portuguesa de Bancos (APB). Mas não teve sucesso. "É um assunto que deverá colocar a cada um dos bancos, pois está dentro da estratégia comercial de cada um deles, não se enquadra no âmbito da APB", disse-nos fonte da entidade.
Rute Ventura, "market researcher" na direção de planeamento, estudos e contabilidade do Montepio, indicou-nos o abrandamento da atividade, a racionalização de custos e a imposição das autoridades como fatores para o encerramento de balcões que tem acontecido a nível europeu. A mesma fonte salienta, em declarações à "Vida Económica", que no caso português "há a juntar aos dois primeiros fatores" a otimização das redes de distribuição depois dos processos de aquisição e fusão ou rebranding. A especialista acrescenta que, em Portugal, a redução do número de balcões não está associada à elevada taxa de bancarização, "mas ao facto de não sermos imunes ao que está a passar-se na Europa e ao difícil programa de ajustamento em curso, com a conhecida exigência para o setor financeiro".
Rute Ventura salienta, no entanto, que o Montepio está em contraciclo. "Pretendemos expandir a nossa atividade em Portugal, estando mais perto das populações e apoiando a atividade empresarial portuguesa. Para o efeito adquirimos, em 2010, a Finibanco Holding. O Montepio tem procedido ao encerramento de balões por via da otimização da rede de distribuição, uma vez que passaram a existir algumas sobreposições geográficas. Temo-lo feito, no entanto, sem recorrer à dispensa de colaboradores", salienta aquela responsável, que explica que se assiste a uma "uma mudança de paradigma" na utilização dos serviços bancários.
A realocação dos recursos humanos é, também, o princípio seguido pelo Banco Popular. Fonte da entidade disse à "Vida Económica" que a conjuntura tem obrigado as empresas de todos os setores a tomarem medidas. "A adaptação à nova realidade não implica necessariamente redução mas, em muitos casos, realocação de efetivos para áreas da atividade bancária em crescimento, como sejam as da prevenção, acompanhamento e recuperação de crédito. Refira-se que, atualmente, o Banco Popular apresenta um dos melhores rácios de colaboradores por agência", disse-nos.
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Aquiles Pinto-aquilespinto@vidaeconomica.pt |
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