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Serafim Marques
Crise no país, mas não no futebol?
29-07-2011
A  bola já começou a rolar, mas antes disso, o "campeonato" das contratações de jogadores, foi alimentado pelas muitas entradas e saídas que os clubes foram fazendo e que, pelos vistos, ainda não terão acabado, porque o prazo termina no fim de Agosto.

Assim, quem chegasse a Portugal durante o "defeso futebolístico", vindo de outro planeta, diria que este é um país de ricos, sem crise e onde o futebol é acaba por funcionar como "ópio do povo", tal o frenesim destas movimentações de jogadores e treinadores. Diria ainda que os portugueses são apaixonados pela bola (mas cada vez o são mais de sofá do que de bancada, para não dizer da sua prática, como prevenção e terapia ao excesso de peso que, cada vez mais, atinge os nossos jovens e crianças), isto é, "ricos e anafados", os portugueses já não sentem vocação e disponibilidade para a prática do futebol, salvo raras excepções, pois os clubes portugueses recorrem à importação de "paletes" de jogadores estrangeiros, empurrando os jogadores portugueses para o desemprego ou emigrando para campeonatos de segunda. É um facto que vivemos na era da globalização e o futebol há muito que assumiu, na plenitude, essa realidade, mas, num país como o nosso, acaba por ser incoerente esta política dos dirigentes dos nossos clubes, ainda mais num país em crise. Alem disso, estas contratações representam uma desigualdade de tratamento afce aos jogadores portugueses, isto é, aos jovens jogadores portugueses não são dadas as mesmas oportunidades que são concedidas aos estrangeiros. Será correcto e justo? Imaginem-se os efeitos, se tal ocorresse noutras profissões!
Numa altura em que se pede aos portugueses que privilegiem "o que é nacional é bom", consumindo produtos portugueses e passando férias no nosso país, ajudando a nossa economia, o futebol faz exactamente o contrário, porque, apesar dalgumas "vendas" milionárias, a balança no seu conjunto é-nos desfavorável. A mim, pessoalmente e sem falsos nacionalismos, causa-me "enjoo" esta política futebolística que, como disse, nem está em consonância com a realidade do nosso país, pelo que, em Portugal, temos "um futebol de ricos em pais pobre?" Então, o que dizer dos suíços, dos austríacos, dos suecos, etc, que estão , na inversa de nós, isto é, "são países ricos com futebol pobre"? Eu diria que assim é  e aqui "governam" dirigentes populistas (agora alguns até já falam num partido regionalista e forte no norte do país - eles que, paradoxalmente, pouco têm de nacionalistas, pelo menos no futebol) que na ânsia de ficarem na história (futebolística) não olham a meios para atingirem os fins (a fama e a glória). Para alguns dirigentes, citaria: "Quem só percebe de futebol, não percebe nada de futebol". É necessário ver muito para alem disso, digo eu e estes dirigentes, um pouco á semelhança dos polítcos, só vêem o imediato e a sua "capelinha".
Surpreendente é  também  a capacidade  de financiamento e endividamento que esses clubes continuam a ter junto da banca ou de fundos, enquanto muitas  empresas (essencialmente as PMEs) morrem asfixiadas por falta de financiamento para a sua actividade, porque a banca está com dificuldades em as financiar, em virtude dos bancos não conseguirem refinanciar-se. Pode dizer-se, como é apanágio dos portugueses, que o dinheiro que os clubes movimentam é uma "gota de água no oceano", mas é um mau exemplo, mostrando-nos que, no nosso país, o futebol ultrapassa os aspectos racionais e económicos, em prol de vitórias que nem sempre acontecem e ou são efémeras. Estudo recente, encomendado pela Liga de Futebol Profissional, vem confirmar que o "estado de endividamento" dos clubes portugueses é extremamente preocupante (500 milhões de euros?) e que as tesourarias desses clubes poderão entrar em rotura, por força das condicionantes atrás citadas. Como disse o presidente da liga e cita-se: "Tal como o país, o futebol profissional precisa de acordar para realidade e pergunto a mim mesmo se este caminho nos garante a competitividade".
E o adepto e consumidor da indústria de futebol, aquele que vem para a rua protestar contra a crise do país e está contra os altos salários pagos aos gestores, mas nunca dos treinadores e jogadores,  é o mesmo que tolera e exige ao clube do seu coração vitórias a qualquer preço, pouco se importando que na sua equipa quase não haja jogadores portugueses! E o que dizer da solidariedade dos outros trabalhadores para com os futebolistas portugueses sem trabalho, porque os dirigentes os escorraçam e  não os contratam, preferindo os estrangeiros de qualidade duvidosa? "O futebol é apenas a coisa mais importante das coisas menos importantes", mas, no nosso país, isto não se aplica, a começar, por exemplo, pelo destaque que a imprensa generalista também dá ao futebol, por vezes em detrimento de assuntos de verdadeiro interesse para nós portugueses, contribuindo igualmente para a euforia futebolística, até que a desilusão aconteça e os projectos megalómanos caiam como castelo de cartas, num futebol português assente em  pilares de areia, mas  onde a esperança se renova em cada época, até que a falência elimine mais alguns clubes. E já são tantos os exemplos no nosso universo futebolístico.  A eterna fuga para a frente, até ao abismo, sem que se imputem responsabilidades aos seus agentes?
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