06-07-2012 Ove Thorsheim, embaixador da Noruega, destaca complementaridade entre os dois países Fundo petrolífero norueguês está interessado no imobiliário em Portugal
O Fundo petrolífero norueguês encara investir no setor imobiliário em Portugal - revelou Ove Thorseim, embaixador da Noruega em Lisboa. Em entrevista à "Vida Económica" o diplomata norueguês destacou o facto de o investimento do Fundo de Pensão Estatal - Global (FPE) nas empresas cotadas portuguesas estar acima da média dos outros países europeus, refletindo a perspetiva positiva dos gestores sobre o potencial de valorização das empresas nacionais. O Fundo de Pensão Estatal - Global (FPE) é alimentado pelas receitas do petróleo, tendo uma carteira de investimentos de 480 mil milhões de euros que cresce todos os anos. É o segundo maior fundo do mundo neste setor.
Ove Thorseim considera que o mar e a energia representam áreas de convergência entre Portugal e a Noruega.
Vida Económica - As relações comerciais entre a Noruega e Portugal estão a evoluir de forma positiva?
Ove Thorsheim - Há um desenvolvimento positivo e o comércio está a crescer. Houve um crescimento 10% de turistas noruegueses a visitarem Portugal, o que é uma indicação do interesse que existe.
Em termos de trocas comerciais, o setor principal continua a ser a pesca, e sempre foi assim há mais de 600 anos. Quase 50% exportações estão ligadas ao peixe e derivados. E é um setor que cresce apesar das dificuldades económicas na União Europeia. A área do petróleo e combustíveis também deve continuar a crescer.
VE - Quando diz que o setor do mar é um setor importante de cooperação entre Portugal e Noruega, refere-se a estaleiros navais, aquacultura, pesca...?
OT - Sim, a recursos vivos do mar. Não apenas peixe, mas também outros organismos, plantas etc. que podem ser usados para biofuel ou na medicina. Há muita atividade a decorrer nesta indústria no campo da biodiversidade e o potencial de utilizar melhor os recursos e temos a possibilidade da descoberta de petróleo e gás. Em Portugal temos boas experiências em atividades offshore neste setor e podemos cooperar em exploração e serviços para os setores do gás e petróleo.
Na navegação tradicional, a Noruega é uma das nações líderes em transporte marítimo e Portugal tem bons portos que dão acesso ao território europeu principal. Estamos a acompanhar particularmente o porto de Sines, mas também Leixões, onde há possibilidades de cooperação a desenvolver.
VE - A aquacultura é um setor muito desenvolvido na Noruega?
OT - A Noruega é o segundo maior país exportador de peixe do mundo e a aquacultura representa mais de 50% das nossas produções. Não é um setor suficientemente desenvolvido em Portugal, devendo ser olhado com mais atenção.
VE - Haveria interesse por parte de empresários noruegueses em apostar na aquacultura em Portugal?
OT - Os nossos empresários estão interessados na aquacultura em todo o lado, mas de momento não tivemos qualquer atividade direta em Portugal neste setor. É mais um potencial do que um projeto concreto a decorrer. Já quando falamos em energias renováveis, já existem projetos comuns a decorrer, como a possibilidade de utilizar plataformas flutuantes para energia eólica, entre outros.
VE - O Fundo Petrolífero Norueguês [Fundo de Pensão Estatal - Global (FPE)] já tem uma participação em empresas portuguesas?
OT - Sim, o nosso fundo participa em 23 empresas diferentes em Portugal. O investimento em Portugal ultrapassa a média do investimento nos outros países europeus. Em Portugal, o investimento é de 1.7% do valor das ações destas empresas enquanto no resto da Europa é de 1.5% do capital social das empresas em causa.
VE - Que fatores determinam que haja um maior investimento em Portugal?
OT - O interesse em Portugal é puramente racional. Os investimentos são feitos tendo em conta as boas oportunidades de negócio e o Fundo vê atualmente boas oportunidades de negócio em Portugal. O objetivo é obter uma rentabilidade favorável, com base no bom negócio. O objetivo que move o fundo não ajudar Portugal, embora daí resultem efeitos positivos para a economia portuguesa.
VE - O vosso fundo estatal é alimentado pelas receitas do petróleo? Qual o valor das aplicações até á data?
OT - A política seguida pelo Fundo é investir em cada ano a totalidade das receitas provenientes da exploração do petróleo. Essas receitas não são se tocam sendo integralmente conservadas para as gerações futuras. O rendimento obtido com as aplicações é receita do Orçamento do Estado norueguês sendo utilizado como fonte de receita. O Fundo já tem 460 mil milhões de euros em aplicações e está a crescer todos os anos.
VE - Os gestores do Fundo ancaram aumentar o investimento em Portugal?
OT - Sim, para além do investimento em empresas portuguesas já estar acima da média, o gestor também manifestou interesse em investir no imobiliário em Portugal, através de compra de propriedades. O primeiro grande investimento foi a compra de 25%, zona comercial de Regent Street, Londres, envolvendo uma transação de mil milhões de euros. Dada a dimensão do fundo os montantes de investimento atingem volumes de investimento consideráveis. Em Portugal precisamente não sei quais as áreas a selecionar, mas que penso que o investimento irá dar prioridade a imóveis com qualidade e elevado potencial de valorização.
VE - Em relação às exportações de Portugal para a Noruega quais os setores que destacaria?
OT - Existe a possibilidade de desenvolvermos a exportação de produtos agrícolas portugueses para a Noruega, dos vossos excelentes vinhos, que têm grande potencial, e outros como o azeite, por exemplo.
VE - Quais as principais vantagens do mercado português para os turistas da Noruega?
OT - Parece haver basicamente duas tendências no turismo: o turismo de golfe porque é curta a temporada para o golfe na Noruega, e o eco turismo e montanhismo. Os noruegueses são adeptos da vida ao ar livre e gostam de caminhar nas montanhas, existem ótimas possibilidades nas belas paisagens portuguesas.
Oportunidades de cooperação entre universidades
No caso das universidades, Ove Thorsheim acha que há oportunidade de cooperação entre Portugal e Noruega, fomentando o intercâmbio de estudantes entre os dois países.
"Tenho visitado várias universidades portuguesas e a última foi a universidade de Aveiro. Existem numerosos pontos de contacto e esta é área de cooperação que também está a crescer. As questões relacionadas com o mar e a investigação na economia do mar poderiam ser o mais interessante para as instituições dos dois países. Gostaríamos de ver mais estudantes portugueses a estudar na Noruega e estamos também a enviar uma quantidade de estudantes noruegueses um pouco para todo mundo, incluindo Portugal. Os números ainda são baixos, mas em alguns setores começam a ser importantes. Há alguns estudantes noruegueses a estudar arquitetura em Portugal, por exemplo", afirma o embaixador.
As universidades norueguesas são grátis, mas o nível de vida é mais caro do que em Portugal. O facto de as universidades não terem propinas é para Ove Thorsheim "interessante para o orçamento de um estudante. Temos muitos cursos em inglês. Portanto, não há nenhuns requisitos específicos quanto aos idiomas necessários para os estudantes portugueses se inscreverem nas universidades norueguesas", conclui. |
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João Luís Sousa jlsousa@vidaeconomica.pt |
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