04-10-2012 I Fórum Empresarial do Algarve, organizado pelo LIDE Portugal Dívidas do Estado e das empresas públicas agravam dificuldades de financiamento da economia
O programa de assistência externa está aquém do que seria necessário em termos de financiamento ao setor produtivo - esta é a opinião de vários banqueiros que participaram na conferência de encerramento do I Fórum Empresarial do Algarve, que decorreu no último fim de semana no Hotel Tivoli Victoria, em Vilamoura. Luís Mira Amaral, presidente do BIC, Nuno Amado, presidente do Millennium BCP, José Maria Ricciardi, presidente da Comissão Executiva do BES Investimento, frisaram ainda a importância do consenso na política económica nacional.
Para Luís Mira Amaral, os representantes da "troika" têm toda a informação sobre as dívidas em atraso do Estado aos fornecedores que estão a agravar as dificuldades de tesouraria das empresas. No entanto, o presidente do BIC recordou que, na altura da negociação do programa de assistência, alguns responsáveis políticos referiram que seria negativo para a imagem do país no exterior dar toda a informação sobre as dívidas em atraso.
Os representantes da Comissão Europeia, do BCE e do FMI têm igualmente em conta que uma parte das dívidas do setor privado é dívida pública porque foi contraída para financiar investimento público e a responsabilidade pelo pagamento é do Estado, tal como acontece com a generalidade das parcerias público-privadas. Para Mira Amaral, o défice tarifário do setor energético é também dívida pública, apesar de não estar classificado como tal, porque os consumidores não vão pagar e a responsabilidade passará para o Estado.
Luís Mira Amaral salientou que "a União Económica e Monetária está incompleta e que o papel essencial dos bancos centrais é preocuparem-se com a estabilidade financeira". O presidente do BIC garantiu que a sua instituição tem continuado a financiar as "PME exportadoras com bom perfil de risco" e lembrou o papel fundamental que a garantia mútua pode desempenhar no financiamento às empresas.
Para encontrar consenso na política económica nacional, Luís Mira Amaral sugeriu que "o Governo devia arranjar um acordo com o PS e fazer um ato governativo de três partidos e com os parceiros sociais, para resolver isto".
Bancos nacionais tiveram de acudir às empresas públicas
José Maria Ricciardi considerou que "o memorando da 'troika' foi mal feito e estamos a sofrer as consequências disso", adiantando que "foram servidas doses excessivas de austeridade, que devia ter sido mais calibrada, pelo que vai ser difícil sair desta situação".
Segundo referiu este banqueiro, uma parte da classe política errou ao achar que o país iria manter o rating apesar da situação delícada em que se encontrava. Com a queda do rating os bancos estrangeiros deixaram de financiar as empresas públicas e tiveram de ser os bancos nacionais a susbtituí-los no financiamento, o que agravou de forma dramática a falta de liquidez para apoiar o setor privado.
Sobre as medidas de reforço do capital que a União Europeia tem estado a impor aos bancos, o presidente do BESI considera que "o problema na Europa e nos Estados Unidos é de supervisão e não de capital".
"Não precisamos de prime time, mas de working time. Precisamos de consensos", disse Nuno Amado, depois das polémicas declarações polémicas de António Borges, no mesmo Fórum, no dia anterior. O presidente do Millennium BCP defendeu que papel da banca é "capitalizar depósitos em empréstimos", referindo que, apesar da agitação das últimas duas semanas, a situação é melhor que há um ano, pelo que "temos agora de financiar a economia".
Na conferência participaram também João Figueiredo, do Banco Único de Moçambique, e Madhukar Shenoy, do Islamic Finance, dos Emirados Árabes Unidos, salientando as oportunidades de negócio e de financiamento que existem nos seus países.
II Fórum Empresarial do Algarve já tem data marcada
Ao encerrar o I Fórum Empresarial do Algarve, o presidente do Comité de Gestão do LIDE Portugal, Nasser Sattar, chamou precisamente a atenção para as "várias oportunidades de negócio que surgiram" nos três dias de debates entre líderes empresariais e governamentais de Portugal, Brasil, Angola e Moçambique. "O nosso tecido empresarial tem de repensar o seu modelo de negócio e, tendo em conta o momento que vivemos, olhar para a internacionalização, nomeadamente, para os países lusófonos".
Nasser Sattar anunciou que, face ao sucesso desta primeira edição, o II Fórum Empresarial do Algarve já tem data marcada: no último fim de semana de Setembro (27 a 29), no Hotel Tivoli Victoria, em Vilamoura.
O Fórum Empresarial do Algarve pretende ser um evento empresarial de referência no espaço de países de língua portuguesa, o maior e mais ambicioso evento de altas esferas corporativas, para aproximar empresas de diferentes países, promover oportunidades de negócio e contribuir para desenvolver as economias nacionais envolvidas. Nesta primeira edição, dedicada aos desafios da crise europeia e internacional, quer-se estabelecer um espaço privilegiado de networking de altíssima qualidade, e uma oportunidade para a discussão de assuntos fundamentais para as economias representadas no evento e respectivo tecido empresarial.
Na sequência do êxito do Fórum e do LIDE Portugal, bem como o papel que a organização portuguesa tem tido no apoio ao desenvolvimento de outros LIDE, Miguel Henrique, presidente executivo do LIDE Portugal, foi nomeado vice-presidente do LIDE Internacional, secundando Luís Furlan, ex-ministro do Planeamento do Brasil. O anúncio foi feito pelo próprio presidente do LIDE global e fundador da organização, João Dória Jr,.
LIDE promove relações empresariais entre países
O LIDE é uma rede de lobbying e networking empresarial de origem brasileira, que reúne personalidades do mundo empresarial. Tem por objetivo incentivar e promover relações empresariais entre os países onde o LIDE está presente; discutir temas económicos e políticos de interesse nacional; fortalecer os princípios de "good governance" e a aplicação de princípios éticos na gestão dos setores público e privado; promover, atualizar e aperfeiçoar o conhecimento empresarial; e estimular a responsabilidade social e o respeito pelo meio ambiente nas empresas e organizações.
O LIDE Internacional é o braço do LIDE que tem por objetivo intensificar o relacionamento comercial internacional. É ao LIDE Internacional que as representações nacionais do Grupo de Líderes Empresarias, como o LIDE Portugal, reportam. Já presente em quatro continentes, americano, europeu, africano e asiático, espera-se que em 2012 o LIDE Internacional esteja também presente nos Estados Unidos da América, na China, na Alemanha, no México, no Chile, em Espanha, em Moçambique e na África do Sul - estes últimos três com o auxílio operacional do LIDE Portugal, à semelhança do que aconteceu, ainda em 2011, com a criação do LIDE Angola.
O LIDE Portugal foi lançado oficialmente a 1 de julho de 2011 e tem vindo desde essa altura a promover ativamente as relações entre o triângulo Portugal-Brasil-Angola.
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