08-10-2012 "A CGD não deve ser privatizada"
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) "tem-se ocupado em financiar alguns clientes em grandes operações financeiras para adquirirem ações" e "demite-se" de financiar os setores que "promovem o desenvolvimento económico que mais interessa a Portugal", como a agricultura e o agroalimentar. A opinião é do engenheiro agrónomo José Martino, que detém a consultora Espaço Visual. Em entrevista à "Vida Económica", toma uma posição clara: "a CGD não deve ser privatizada".
Vida Económica - Referiu num artigo de opinião na "Vida Económica" que os jovens agricultores precisam de quem os apoie e que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem de ter um papel decisivo nesta matéria. A CGD não tem assumido esse papel?
José Martino - A CGD não tem assumido esse papel porque tem-se ocupado em financiar alguns clientes em grandes operações financeiras para adquirirem ações, por
exemplo, a compra de ações do BCP ou da BRISA. Por outro lado, não tem privilegiado o financiamento das empresas que produzem bens transacionáveis na agricultura e na indústria, porque a tutela política que se deveria exercer nas assembleias-gerais demite-se de o fazer, não a utilizando como um instrumento claro e privilegiado de apoio às empresas que promovem o desenvolvimento económico que mais interessa a Portugal. A CGD tem-se preocupado em ser mais um banco que opera em Portugal, fazendo-o com a mesma estratégia dos seus concorrentes. A CGD deveria apoiar de forma prioritária as
empresas exportadoras e os jovens agricultores.
VE - Qual é a maior dificuldade: a obtenção do crédito ou o preço desse crédito?
JM - Creio que para as 'start up' a maior dificuldade é a obtenção de crédito. Para as empresas que têm histórico, mesmo com bons resultados contabilísticos, o problema principal é o custo do crédito. Está-se a atingir patamares de valores imorais no custo do crédito, mesmo com a cobertura do Estado através das linhas de financiamento PME. Faço votos que este problema, a prazo, não venha a ser para os contribuintes
portugueses um segundo BPN.
VE - Qual é o banco português que melhor tem apoiado, em
termos de facilidades de financiamento, a agricultura e a agroindústria?
JM - Na minha opinião não há um banco especializado que privilegie o financiamento da agricultura e agroindústria.
VE - Se a CGD for privatizada, que evolução é que pode haver no que respeita ao financiamento à agricultura e ao setor agroalimentar?
JM - A CGD não deve ser privatizada e deve mudar a sua estratégia sendo um instrumento de apoio efetivo ao financiamento das atividades económicas que interessam ao desenvolvimento de Portugal. Caso venha a acontecer, mesmo parcialmente, temo que a agricultura e o setor agroalimentar serão financiados em linha do que tem sido nos últimos anos, o que, na minha opinião, é um erro.
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TERESA SILVEIRA teresasilveira@vidaeconomica.pt |
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